Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 10/01/2010
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O National Quality Forum (NQF) é uma organização norte-americana sem fins lucrativos formada por representantes da população, de instituições, de fontes pagadoras, de instituições acreditadoras e por profissionais da área da saúde. Sua missão é promover melhoria da qualidade na área da saúde.
Em 2003, esta instituição lançou nos EUA uma lista de pontos relacionados à Segurança do Paciente que deveriam ser o foco de trabalho das instituições em busca de uma assistência em saúde mais segura. Esta lista já havia sido atualizada em 2006 e novamente agora em 2009. Todos os pontos de trabalho descritos seguem alguns princípios em comum:
Há fortes evidências que são práticas efetivas em reduzir a chance de se causar dano ao paciente;
São práticas generalizáveis, isto é, podem ser aplicadas em diferentes níveis de assistência e para diferentes tipos de pacientes;
Provavelmente têm um benefício amplo e sustentável para a Segurança do Paciente se implementadas de forma universal e sistemática;
O conhecimento sobre elas pode ser utilizado por pacientes, profissionais de saúde, fontes pagadoras e pesquisadores.
Além disso, cada prática descrita leva em conta a freqüência do problema, sua gravidade, a possibilidade de sua prevenção e seu impacto financeiro.
Em resumo, são 34 focos de trabalho que se demonstraram efetivos em reduzir a ocorrência de eventos adversos na assistência em saúde. Essas práticas contemplam algumas categorias dentro dos aspectos de melhoria da Segurança do Paciente:
Criar e Sustentar uma Cultura de Segurança do Paciente;
Satisfazer as necessidades da assistência que deve ser prestada com adequação da capacidade do serviço;
Facilitar a transferência de informação e a comunicação clara;
Cuidados com medicamentos;
Prevenção de infecções relacionadas à assistência;
Práticas relacionadas a condições específicas (úlcera de pressão, etc);
Outros: Consentimento Informado, Tratamentos para Sustentar a Vida, Divulgação e Cuidados com quem cuida.
A seguir apresentamos os 34 itens e uma breve descrição do que fazer a respeito de cada um deles:
Focos de trabalho para a Segurança do Paciente |
O que fazer a respeito |
1. Estruturas e Sistemas de Liderança |
Estruturas e sistemas de liderança devem ser estabelecidos para garantir que haja sensibilização sobre as falhas no desempenho de segurança do paciente, direcionando a responsabilidade sobre essas lacunas para a alta liderança, e adequando investimentos para melhorar o desempenho de habilidades, para garantir que ações estejam sendo tomadas para garantir uma assistência segura para cada paciente. |
2. Avaliação da Cultura, Feedback e Intervenções |
As instituições devem medir sua cultura de segurança, dar feedback para suas lideranças e colaboradores, e criar intervenções que reduzam os riscos para a segurança do paciente. |
3. Treinamento em Equipe e Desenvolvimento de Habilidades |
As instituições devem estabelecer uma abordagem organizacional, sistemática e pró-ativa para desenvolver treinamento em equipe, desenvolvimento de habilidades e intervenções para melhorar a performance da liderança, de forma a reduzir os danos evitáveis aos pacientes. |
4. Identificação e Minimização de Riscos e Danos |
As instituições devem identificar e minimizar sistematicamente os riscos para a segurança do paciente, de forma a continuamente diminuir os danos estabelecidos. |
5. Consentimento Informado |
Peça a todo paciente ou seu responsável legal, que explique em suas próprias palavras, as informações chave a respeito do tratamento proposto ou procedimentos sobre os quais está se solicitando que dê consentimento informado. |
6. Tratamentos para Sustentar a Vida |
Garantir que documentação escrita sobre as preferências do paciente sobre tratamentos para sustentar a vida estão disponíveis no prontuário. |
7. Divulgação |
Após eventos adversos, incluindo aqueles claramente causados por falhas de processos, o paciente, e quando necessário a família, devem receber as informações prontamente e de forma clara e transparente, a respeito do ocorrido. |
8. Cuidar de quem cuida |
Toda vez que um erro não intencional ou gerado por processos falhos ocorrer, os profissionais envolvidos devem ser avaliados de forma justa, com respeito e abrindo a oportunidade desses profissionais participarem da investigação do evento, bem como das ações para minimizar eventos futuros; |
9. Força de Trabalho da Enfermagem |
Implementar componentes que são críticos para um esquema de trabalho de enfermagem bem desenhado para a segurança do paciente: Planejamento da equipe de enfermagem com evidência de recursos adequados, sendo que sua efetividade deve ser regularmente avaliada quanto à segurança do paciente; Colocar líderes de enfermagem como parte da equipe gerencial da instituição; Líderes de enfermagem administrativos devem ter a responsabilidade de reduzir os riscos para a segurança do paciente relacionados com as decisões de enfermagem e devem garantir recursos financeiros para os serviços de enfermagem; Prover recursos orçamentários para manutenção e aquisição de conhecimento e técnicas profissionais. |
10. Cuidadores |
Garantir que cuidadores que não são da área da saúde tenham orientação adequada, bem como treinamento para realizar suas atribuições. |
11. Unidade de Terapia Intensiva |
Todos os pacientes em ambiente de terapia intensiva devem ser manejados por profissionais que tenham treinamento específico na área. |
12. Informações sobre a assistência ao paciente |
Garantir que a informação sobre a assistência que está sendo prestada é transmitida ao paciente e documentada no momento apropriado e de forma clara. |
13. Confirmação de Informações e Abreviações |
Incorporar uma estratégia e uma estrutura seguras e efetivas quanto aos seguintes itens: Para ordens verbais ou comunicações de resultados por telefone, verificar se a informação recebida está correta confirmando tudo com quem está passando a informação; Padronizar uma lista de abreviações que não devem ser usadas, bem como símbolos, acrônimos, etc. |
14. Identificação de Exames |
Implementar políticas e processos padronizados para garantir a identificação correta de radiografias, exames de laboratório, biópsias, fazendo com que o exame correto seja identificado para o paciente correto no momento correto. |
15. Plano de Alta |
Um plano de alta deve ser preparado para cada paciente no momento da alta hospitalar. As instituições devem garantir que a informação tenha chegado a quem assumirá a responsabilidade por dar continuidade à assistência ao paciente após a alta. |
16. Adotar Prescrição Computadorizada Segura |
Implementar um sistema computadorizado de prescrição que tenha bases em evidências científicas, garantindo facilidade de acesso aos usuários e integrando a informação com infraestrutura tecnológica. |
Reconciliação Medicamentosa |
A instituição deve desenvolver uma forma de reconciliar a lista de medicamentos dos pacientes ao longo de todo o processo de assistência (veja: Prevenção de Eventos Adversos Causados Por Medicamentos - Campanha “5 Milhões de Vidas”). |
17. Sistemas e Estruturas com Farmacêuticos |
Os farmacêuticos devem ter um papel ativo de liderança no que tange a autoridade e responsabilidade sobre os sistemas relacionados aos medicamentos dentro da instituição. |
18. Higiene das Mãos |
Procurar seguir as recomendações internacionais para Higiene das Mãos em toda a instituição. |
19. Prevenção para Influenza |
As instituições devem se adequar quanto à vacinação para Influenza em seus funcionários e parceiros. |
20. Prevenção de Infecção relacionada a Cateter Venoso Central |
Desenvolver ações para prevenir infecções de sítio cirúrgico com práticas baseadas em evidências (veja: Prevenção de Infecção Associada a Cateter Venoso Central - Campanha “5 Milhões de Vidas”) |
Prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico |
Desenvolver ações para prevenir infecções de sítio cirúrgico com práticas baseadas em evidências (veja: Prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico - Campanha “5 Milhões de Vidas”). |
Cuidados com pacientes em Ventilação Mecânica |
Ações para prevenir as complicações em pacientes em Ventilação Mecânica devem ser implementadas, especificamente Pneumonia associada a ventilação (veja: Prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica - Campanha “5 Milhões de Vidas”), tromboembolismo venoso, úlcera péptica, complicações dentárias e úlceras de pressão. |
Prevenção de Organismos Multi-resistentes |
Implementar ações sitemáticas para erradicar organismos multi-resistentes, identificando os pacientes de risco e/ou portadores e tomando ações de assistência para estes pacientes. Deve-se dar atenção especial a S.aureus resistente a meticilina (veja: Redução de Infecções por Staphylococcus aureus Meticilina-Resitente - Campanha “5 Milhões de Vidas”), bacilos gram-negativos multi-resistentes, enterococos resistentes a vancomicina e Clostridium difficile. |
21. Prevenção de Infecção urinária relacionada à sonda vesical |
Devem-se implementar práticas baseadas em evidências para prevenir as infecções de trato urinário relacionadas à sondagem vesical. |
22. Prevenção para procedimento cirúrgico errado, cirurgia em pessoa errada e cirurgia em lado errado |
Deve-se implementar um protocolo para garantir a segurança em cirurgias (veja a Introdução à Campanha “Cirurgia Segura Salva Vidas” da OMS). |
23. Prevenção de Úlceras de Pressão |
Desenvolver ações para evitar úlceras de pressão com práticas baseadas em evidências (veja: Prevenção de Úlcera de Pressão - Campanha “5 Milhões de Vidas” ). |
24. Prevenção de Tromboembolismo Venoso |
Avalie todo paciente na admissão e regularmente após isso para o risco de desenvolver tromboembolismo venoso. Deve-se utilizar práticas de profilaxia baseadas em evidências (veja: Profilaxia de Trombose Venosa Profunda e Embolia Pulmonar – Abordagem Custo-Efetiva). |
25. Terapia Anticoagulante |
As instituições devem implementar práticas que evitem eventos adversos decorrentes de uso de anticoagulantes (veja: Prevenção de Danos por Medicamentos de Alto Risco - Campanha “5 Milhões de Vidas”). |
26. Prevenção de insuficiência renal induzida por contraste |
Utilizar protocolos para avaliar pacientes com risco de insuficiência renal por contraste e fibrose nefrogênica associada a gadolíneo, bem como métodos para reduzir os riscos nos pacientes avaliados. |
27. Doação de Órgãos |
As políticas do hospital devem estar consistentes com a legislação vigente, bem como deve-se dar atenção ao paciente e/ou seus familiares quanto às preferências sobre doação de órgãos, e informações aos mesmos sobre as etapas do processo de doação. |
28. Controle Glicêmico |
Deve-se tomar ações para realizar um controle glicêmico adequado com práticas baseadas em evidências, mas buscando evitar as hipoglicemias (veja: Prevenção de Danos por Medicamentos de Alto Risco - Campanha “5 Milhões de Vidas”). |
29. Prevenção de Quedas |
Práticas baseadas em evidências devem ser implementadas para identificar os pacientes em risco para quedas, bem como para diminuir os danos relacionados às possíveis quedas. |
30. Radiação em Crianças |
Quando exames de tomografia forem realizados em crianças, técnicas devem ser utilizadas para reduzir a exposição à radiação ionizante. |
1. National Quality Forum (NQF). Safe Practices for Better Healthcare–2009 Update: A Consensus Report. Washington, DC: NQF; 2009
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